Para quem diz que é impossível viajar no tempo. Eu digo ser possível. Para quem diz que é na hora da morte que sua vida inteira passa diante dos seus olhos, eu digo que eu vi tudo passar também e ainda estou vivo, ou acredito que estou. O mundo é tão louco, que já tenho minhas dúvidas sobre o que é real e o que não é, já nem sei mais se eu sou real.
Aquele dia muita coisa estava diferente, acordei mais cedo do que de costume, passei a noite inteira tendo pesadelos, e vendo números em minha mente, vários números. Tentava dormir, e sempre os mesmos números vinham a mente, um código numérico de datas que marcaram minha vida, dias que eu queria reviver, e dias que eu queria esquecer. Todas essas datas a madrugada toda vinha a minha cabeça, e eu lembrava o que tinha feito, era um jogo que não em deixava dormir.
Estava em mais um tentativa de tentar pregar os olhos quando o despertador tocou, eram trinta e seis para as seis, o dia era seis do seis de 2016. Seis graus lá fora. Era muitos seis para um dia só, e eu estava com os números dos meus sonhos na mente.
Resolvi levantar, e ir fazer a barba e tomar um banho matinal, precisava para acordar e para fazer passar o sono de vez, mas o aparelho de barbear não queria ajudar, acabei me cortando algumas vezes, mas emfim terminei e fui para o banho.
Eu sou uma pessoa que nunca sentia frio, porém aquele dia estava todo gelado, sentia como se um vento soprasse em minha espinha o tempo todo, e me congelava de cima a baixo, nem o banho quente, nem as roupas quentes, nem o café quente de todas as manhãs conseguiu me esquentar aquele dia sombrio.
Fechei a porta e sai para a rua, lá estava ainda mais gelado, parecia mais tarde do que era, e tudo estava tão escuro, diferente dos outros dias. Segui caminhando pela rua em direção a parada do ônibus, um gato preto começou a miar, a cima do muro de uma casa abandonada, ele ficava me olhando e miando, passei reto por ele e fui e direção ao local onde pegava o ônibus.
Ele não demorou a passar, todavia o motorista do ônibus, não era o mesmo de todos os dias. E ele dirigia mais rápido que o outro, cheguei muito cedo ao meu destino no centro, desci no local de sempre e comecei a caminhar até o trabalho. A menina que passava por mim, todos os dias na mesma esquina, no mesmo horário hoje não passou por mim.
Parecia que aquele dia, nada estava funcionando como todos os dias, até as pombas da cidade estavam estranhos, e elas não estavam no local onde todo dia elas paravam para comer pão que a vizinha colocava ao lado da lixeira, não tinha pão, e nem a vizinha e seu cachorro que passavam por mim toda a manhã, não estava ali aquele dia.
Matei um tempo, arrastei os passos, ainda era cedo, mas nada da menina passar a caminho da escola, até o vento daquela manhã estava mais gelado. Então escutei aquele barulho, pareciam sinos, olhou pára cima e vi, UM SINO DE METAIS tocando uma melodia triste, ao bater do vento.Aquele barulho melancólico roubou totalmente minha atenção, parece que o tempo queria me mandar uma mensagem. Resolvi deixar tudo como estava e seguir meu caminho, entrei pelo portão da empresa, o casarão antigo,
Caminhava devagar em direção a porta dos fundos, e aquele momento senti uma forte impressão de estar sendo observado por alguém, então ao olhar para cima vi um vulto ali, deveria ser minha imaginação apenas, já que a única pessoa que estava aquela hora ali, era um dos sócios, e ele estava no andar de baixo.
passei de vagar pela porta da entrada, procurando com os olhos o gatinho preto, que todos os dias me recebia todos os dias, ele vinha até mim, desde que entrei na empresa, pedindo um carinho, desde que entrei na empresa e que ele aparecerá ali do nada, e todos os dias ficava ali. Mas aquele dia ele não estava.
Era um dia misterioso. Tudo estava estranho, e eu com um frio na barriga, sentindo que algo estava acontecendo ao redor.
Ao entrar no local tudo parecia normal, não tinha como algo mudar dentro daquela casa, pois desde sua criação, o sobrado antigo era igual por dentro. Ela ao natural já era sinistra.
A manhã passou normal, nada de muito estranho, a não ser a sensação de frio o tempo todo.Em em algum momento da manhã, eu fui ajudar a menina que atendia na recepção da empresa, a arrumar o computador e ela comentava sobre o frio fora do comum que estava aquele dia, e do nada, ela tremeu e reclamou que sentiu um arrepio. Eu também havia sentido aquele gelo nas costas. Ela então comentou que o pai dela comentava, que quando as pessoas sentem esses calafrios, e frios extremos é sinal que a morte estava rondando o ambiente, ou algum espírito. Eu apenas sorri, por que era uma pessoa completamente cética.
Logo chegou a hora do almoço, e ao pegar o celular, percebi que o amigo, que todos os dias almoçava comigo aquele dia iria almoçar com a namorada. Era simplesmente o dia que ele mais amava no restaurante, o dia que tinha abóbora. Fui novamente aos fundos da empresa, e o gatinho, ainda não estava lá. Ele nunca tinha ficado tanto tempo longe dali, será que havia acontecido alguma coisa.
Então sai da empresa e segui rumo ao restaurante. Perdido em pensamentos, lembranças do passado não saiam da minha cabeça. E durante a minha caminhada, pelo centro da cidade, passado e presente começaram a se misturar. Todas as lembranças dos lugares que eu passava vinham a minha cabeça, momentos bons e maus, risadas e tristezas. Eu olhava para a praça, e não a enxergava mais no presente, ela estava diferente, era como se tivesse viajando no tempo.
Ela estava mais verde, e as cercas da construção, da reforma que ela passará, não estavam mais lá, ao passar na frente do banco, onde ficava com minha ex, ainda tinha o arbusto, que outrora nos escondia durante os amassos. Como poderia estar ali, se ele fora arrancado a alguns anos.
Tudo começou a tremer na minha mente, a visão ficou turva, e eu comecei a escutar ao longe um tocar de sino, um sino alto, que me incomodava os ouvidos, ao olhar para os lados ninguém parecia escutar, o que eu escutava, pessoas passavam por um lado e pelo outro, pareciam nem ver que eu estava ali, nos bancos mais próximos ao chafariz, rockeiros, vestidos de pretos tomando vinho e dando risada. Como antigamente, coisa que não existia mais no presente. Eu continuava tentando entender o que estava acontecendo, e o sino não parava de tocar.
Eu sabia de onde vinha aquele barulho, da igreja do porto, local onde eu sempre passava, acompanhando a menina até em casa, para ela não ir sozinha, refiz o passo a passo, aquele caminho que fazia quase todas as noites. A cada passo que eu dava, eu ouvia vozes de conversas que tive no passado.
Meu sonhos ecoavam, sonhos que eu tinha e que tinha esquecido, e eu em via a alguns anos atrás, quando eu ainda acreditava em muita coisa, quando eu era alguém legal. Fico pensando em como mudei e como certos valores ficaram para trás, em como eu fui idiota.
Eu estava confuso, não sabia mais onde eu estava, ou em que tempo eu estava, só ainda escutava os sinos tocando e os ventos do destino tocando, minha mão estava gelada, como nunca, sentia aquele vento passar entre meus dedos e agora lá ao longe eu vi a enorme igreja, em sua torre mais alta, tinha uma imagem de Cristo, com as mãos ao alto, parecia abençoar a cidade. Parecia ver tudo lá do alto.
Me lembrei de todas as vezes que passava por ali, e da noite em que sonhei com aquela igreja, foi um sonho tão real, que depois dessa noite, escrevi um dos meus melhores livros. E agora estava ali, parado novamente diante daquela igreja, nem sabendo o que estava fazendo ali. Será que eu ainda estava vivo? O que tinha errado àquele dia?
Do nada, vários pontos da minha vida, começaram a passar diante dos meus olhos, várias coisas ao mesmo tempo, como se fosse um filme rodando em máxima velocidade. Lembrei-me então de cada promessa, de cada sonho não realizado, de cada oportunidade perdida, de cada promessa não cumprida, foi o tempo de olhar para o relógio do celular que estava em punho e perceber que o mesmo estava parado. Eu olhei mais uma vez para cima e as nuvens pareciam estar correndo, mais que o filme da minha vida que passava diante dos meus olhos.
Do nada, vários pontos da minha vida, começaram a passar diante dos meus olhos, várias coisas ao mesmo tempo, como se fosse um filme rodando em máxima velocidade. Lembrei-me então de cada promessa, de cada sonho não realizado, de cada oportunidade perdida, de cada promessa não cumprida, foi o tempo de olhar para o relógio do celular que estava em punho e perceber que o mesmo estava parado. Eu olhei mais uma vez para cima e as nuvens pareciam estar correndo, mais que o filme da minha vida que passava diante dos meus olhos.
O sino no alto da igreja foi ficando baixo, baixo, baixo até que eu não podia escutá-lo mais. Então o barulho do dia a dia, voltou no meus ouvidos, carros, pessoas falando, e eu percebi estar na calçada, a frente da igreja. Mal sabia o que estava fazendo ali, mas aquela sensação de frio havia passado. Eu estava parado no sol.
Não sei como havia começado aquela viagem, eu estava sóbrio, mas era como se por algum momento, eu não tivesse ali, naquele espaço e tempo. Olhei no relógio, e já tinha se passado toda minha hora de almoço. O tempo havia voado, e eu nem havia percebido. Tive que correr para chegar a tempo na empresa, pois essa igreja ficava razoavelmente longe do local onde trabalhava.
Entrei rápido no local, e ao chegar na porta dos fundos, por onde eu entrava todo dia, e minha surpresa era que o gatinho preto estava lá, ao me ver, olhou com aqueles olhos amarelos, e começou a miar. Eu então fui até ele e fiz um carinho em sua cabeça.
"Não sabe como estou feliz em lhe ver." Comentei, sentindo que as coisas estavam voltando ao normal, sinto que nunca vou saber o que aconteceu aquele dia, só espero que as coisas voltei a rotina diária.
André Alvarez
6/6/2016
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